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Foto do escritorDavid Mesquita

Lombalgia exige repouso?

Atualizado: 4 de jun. de 2022

Lombalgia ainda é a maior causa de afastamento das atividades diárias, mas muitas pessoas ainda recorrem a tratamentos inadequados.



No Brasil, cerca de 26 milhões de pessoas sofrem de lombalgia, com ou sem irradiação para os membros inferiores. Esse número representa 13% da população nacional, sendo cada vez mais expressivo, à medida que as atividades diárias incentivam os indivíduos a serem mais sedentários ou menos ativos.


Essa é a constatação de uma série de artigos científicos que vêm sendo publicados nos últimos anos pela revista científica "The Lancet", uma das mais respeitadas no mundo. Os artigos atuais, que são resultado de pesquisas desenvolvidas por 33 autores, distribuídos em 12 países diferentes, recomendam que a dor lombar seja administrada na atenção primária, seguindo orientações para que os pacientes se mantenham ativos, inclusive no ambiente de trabalho.


No entanto, embora as técnicas de tratamento tenham evoluído nos últimos anos, sobretudo na área da fisioterapia, muitos pacientes que buscam atendimentos de emergência clínica ou nos hospitais ainda recebem como recomendação o "combo"antiinflamatório + repouso, além da orientação para a realização de exames de imagens, muitas vezes caros e desnecessários.


Evidências científicas mais atuais, somadas às experiências da prática clínica, demonstram que os exames de imagem, embora possam contribuir para elucidar as causas das dores lombares, não são determinantes para o sucesso do diagnóstico. A dor lombar pode ter por origem uma série de questões que vão muito além de uma compressão por hérnia de disco ou abaulamento do disco intervertebral, por exemplo. Compensações musculoesqueléticas ocasionadas por lesões ou traumas antigos, instabilidades da articulação lombo-pélvica, lesões nos quadris, disfunção sacro-ilíaca, pisada irregular, ou mesmo questões de ordem biopsicossocial, podem contribuir para gerar a dor lombar, inclusive com irradiação para os membros inferiores.


A título de exemplo, vamos dizer que um paciente chegue ao consultório relatando dor lombar com irradiação para a parte anterior (da frente) das pernas, sobretudo no músculo quadríceps. Os exames de imagem apresentados, através de raio-x e ressonância magnética, relatam protusão discal em L5 e S1 (região lombo-sacra) e áreas do quadril com processo inflamatório (tendinite). Embora tais exames evidenciem essas pequenas alterações, não é possível confirmar que sejam elas as responsáveis pelas queixas de dor do paciente. De um lado, porque uma protusão discal em L5 e S1, além de representar, na grande maioria dos casos, um dado irrelevante, raramente geraria irradiação para a parte anterior das pernas, sendo mais comum uma irradiação na parte posterior (de trás) das pernas, pelo comprometimento do nervo ciático. De outro lado, as áreas de processo inflamatório do quadril não são a causa do problema do paciente, mas sim uma consequência. Tratar a tendinite com antiinflamatório e relaxante muscular, por exemplo, só remedia a dor. A real causa do problema continuará instalada na região, acarretando novas crises de dor a médio ou longo prazo, e comprometendo a qualidade de vida do paciente.





Situações como essa, acima exemplificada, exigem análise clínica detalhada (anamnese) da vida pregressa e atual do paciente, dos seus hábitos e atividades diárias, bem como a realização, em consultório, de uma série de testes de movimento e provocativos da dor. Todos esses instrumentos, somados ao raciocínio clínico bem conduzido, podem auxiliar o profissional fisioterapeuta ou osteopata na identificação da verdadeira causa da dor dos pacientes, bem como das lesões observáveis através dos exames de imagem.


Evidências científicas comprovam que se manter ativo é o melhor recurso contra a dor lombar, e que o repouso por tempo prolongado pode piorar os sintomas. O correto diagnóstico das causas que geram limitação, desconforto ou dor, associado ao tratamento das cadeias musculoesqueléticas correlatas, ainda pode ser o melhor caminho para o paciente se livrar do perigoso hábito de recorrer ao uso de antiinflamatórios, corticóides e relaxantes musculares, e alcançar finalmente a qualidade de vida almejada.



 

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